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Braga traz-nos cultura com o pé no chão

Wishwall @ Braga Parque

Braga traz-nos cultura com o pé no chão

Publicado em 03 de Agosto de 2025 às 09:00

Com iniciativas como o Porta do Comer, a Wishwall e as Visitas Guiadas B25, o Programa de Mediação da Braga 25, Capital Portuguesa da Cultura, aproxima públicos, promove acessibilidade e transforma a relação entre artistas, espaços e comunidade. É cultura pensada para todos.

Na Braga 25, a cultura não acontece apenas nos palcos: também se serve à mesa, é escrita num mural público ou descoberta a pé. Ao longo deste ano, Braga, Capital Portuguesa da Cultura, está a viver o maior programa cultural da sua história. Para além dos espetáculos, exposições e festivais, há também um outro movimento a decorrer — menos visível, mas de impacto profundo. Trata-se do Programa de Mediação da Braga 25, coordenado pela Faz Cultura, a Empresa Municipal de Cultura de Braga, responsável pela gestão e programação do do Theatro Circo, gnration, Braga Media Arts e Braga 25.

Com propostas como o Porta do Comer, a Wishwall e as Visitas Guiadas B25, este programa contribui para uma nova forma de viver a arte, incentivando a participação ativa e o envolvimento direto da comunidade. Em Braga, Capital Portuguesa da Cultura 2025, a ideia de que a cultura deve ser acessível, próxima e partilhada ganha expressão concreta. O programa de mediação, que atravessa toda a programação artística, assume-se como eixo estratégico de inclusão cultural.

Segundo Cláudia Cibrão, responsável pelo programa, “todas estas propostas integram o Programa de Mediação da Braga 25 e partilham, por isso, um mesmo objetivo: promover o contacto com diferentes públicos – especialmente os mais distantes do setor cultural e criativo – através de propostas acessíveis, participativas e descomplicadas, capazes de atrair o maior número de pessoas possível”.

Braga traz-nos cultura com o pé no chão
Cláudia Cibrão, responsável pelo Programa de Mediação da Braga 25

Cláudia Cibrão, responsável pelo Programa de Mediação da Braga 25

Porta do Comer: gastronomia e memória

Entre as propostas que integram este programa, destaca-se o ciclo Porta do Comer, inserido nas Portas de Entrada, conjunto de quatro ciclos temáticos que trabalham a relação entre património e contemporaneidade. Aqui, a gastronomia é ponto de partida para encontros culturais e afetivos.

Cláudia Cibrão explica que “através deste ciclo específico procuramos criar experiências acessíveis, significativas e participativas em torno de um dos elementos culturais mais universais: a gastronomia”. Esta escolha não é casual: “acreditamos que comer é uma forma de cultura que todos compreendemos e, por isso, um ponto de partida fabuloso para uma programação que quer envolver também todos aqueles que habitualmente não estão predispostos a consumir Arte e Cultura”.

Desde janeiro que o Porta do Comer promove o cruzamento entre tradições locais e saberes de outras comunidades que habitam Braga. “Ao convidar chefs de diferentes origens, como Cabo Verde, Brasil ou Iraque, pretendemos abrir espaço ao reconhecimento da diversidade cultural que compõe a cidade e ao mesmo tempo contribuir, de forma sensível e não impositiva, para desconstruir preconceitos e reforçar uma ideia de pertença plural.”

Braga traz-nos cultura com o pé no chão
Porta do Comer, ciclo de oficinas gastronómicas

Porta do Comer, ciclo de oficinas gastronómicas

A próxima sessão realiza-se a 9 de agosto, com um workshop que juntará a cozinha portuguesa à brasileira. Até ao final do ano, está ainda prevista uma sessão especial com todos os chefs que participaram ao longo do ciclo, em formato de restaurante temporário. Para Cláudia, “mais do que uma proposta gastronómica, o Porta do Comer é um pretexto para nos juntarmos à volta da mesa, um lugar onde cabem todos, independentemente da origem, idade ou hábitos.”

Wishwall: desejos partilhados e arte participativa

A Wishwall – Mural dos Desejos é uma instalação participativa concebida pelo coletivo Moradavaga que retoma a experiência da Caixa dos Desejos da Noite Branca 2023. Cláudia define a peça como “lúdica e interativa, pensada para todas as idades, que procura devolver e ampliar esses resultados através da participação e do (re)encontro com a comunidade.”

Depois de ter passado pelo Theatro Circo e pelo Braga Parque, o mural será apresentado entre 12 de agosto e 16 de setembro no centro comercial Nova Arcada. Esta nova localização reforça o impacto da obra: “A sua escala e localização estratégica fazem com que o público não possa ignorá-la. E é precisamente essa presença no quotidiano que permite uma interação natural, expressiva e contínua com a peça”.

No local, os visitantes poderão ler desejos recolhidos em 2023, descobrir projetos da Braga 25 integrados na instalação e escrever novas mensagens. Estão ainda previstas duas visitas guiadas que passam pela obra, no âmbito das Visitas Guiadas B25.

Visitas Guiadas B25: percursos urbanos e acesso à cultura

As Visitas Guiadas B25 são outra das ferramentas fundamentais deste eixo. Combinam percursos urbanos com fruição artística e acessibilidade, criando experiências coletivas abertas ao diálogo e à descoberta. Estas visitas, desenvolvidas com a estrutura Destino 4all – Turismo para Todos, percorrem obras e projetos da Braga 25 com o objetivo de aproximar o público da programação cultural.

Braga traz-nos cultura com o pé no chão
Visitas guiadas B25, neste caso à exposição de Kim Gordon

Visitas guiadas B25, neste caso à exposição de Kim Gordon

Cláudia Cibrão sublinha que “as Visitas Guiadas B25 são pensadas desde o início para acolher público geral, ou seja, qualquer pessoa”. Por isso, são preparadas com atenção à “acessibilidade física, social e intelectual”. As visitas são orientadas por guias profissionais e incluem, no momento da inscrição, a possibilidade de solicitar condições específicas, como intérprete de Língua Gestual Portuguesa. A linguagem é clara e informal, promovendo envolvimento direto. “O ambiente informal convida à participação, ao diálogo e à escuta ativa”, refere a responsável.

A próxima visita acontece a 30 de agosto e inclui paragem na instalação Wishwall. Em setembro, o ciclo continua com novos percursos, pensados para diferentes públicos e contextos.

Mediação cultural em rede

Uma das opções assumidas pela Braga 25 foi a de atuar fora dos seus polos habituais. “Adotou-se uma política clara de fazer tudo ‘fora de casa’ — ou seja, fora dos seus grandes polos culturais como o Theatro Circo ou o gnration — para aproximar-se da população e do tecido associativo”, esclarece Cláudia Cibrão. Durante o mês de agosto, as ações decorrem no Mercado Municipal de Braga e no Nova Arcada, mas outros espaços estão previstos para o último trimestre do ano, como o CADI – Centro de Artes e Desporto Inclusivo ou o Auditório da Junta de Freguesia da Sé.

A expectativa é clara: “Queremos que estas experiências fortaleçam o vínculo entre a cidade e os seus cidadãos/visitantes, promovendo inclusão, interculturalidade e o reconhecimento da cultura local como um espaço aberto a todos.”

Numa altura em que se sente o peso do isolamento e da fragmentação social, o programa de mediação da Braga 25 assume a cultura como um espaço de encontro, escuta e inclusão. Mais do que acessível em termos técnicos, esta programação é pensada com e para as pessoas. As propostas são cuidadosamente curadas, mas abertas à participação espontânea, ao improviso e ao envolvimento afetivo de quem nelas toma parte.