O espetáculo “Steal You For a Moment”, integrado na programação Braga – Capital Portuguesa da Cultura 2025, promete um universo de mistério e sedução, inspirado nas ruínas nurágicas da Sardenha, ilha onde um dos mais reconhecidos bailarinos e coreógrafos portugueses, Francisco Camacho, tem vivido parte do tempo, alternando com Portugal, desde 2011. Essa civilização perdida deixou dezenas de gigantes de pedra com dois metros de altura e estruturas megalíticas em toda a ilha.
Como explica Francisco Camacho em entrevista, um território que foi a base de inspiração para esta peça, que vai ser apresentada no Theatro Circo em Braga, no fim de semana de 11 e 12 de abril, desenvolvida em colaboração com a coreógrafa e bailarina norte-americana Meg Stuart, sua amiga e parceira de várias danças e andanças.
“O público encontrará um mundo intrigante, mas sedutor, pleno de elementos que permitem ativar a imaginação e criar associações. As ações e sequências coreográficas que nós desenvolvemos, a par das intervenções pontuais do cenógrafo Gaëtan Rusquet, abrem intencionalmente possibilidades de sentido que podem ecoar diversamente em quem assiste”, afirma o coreógrafo e bailarino Francisco Camacho.
A inspiração nas ruínas nurágicas da ilha italiana da Sardenha tem uma razão de ser. “Antes de mais, prende-se com o facto de eu viver entre a Sardenha e Portugal, desde 2011. Logo na génese deste projeto, soube que gostaria que a Meg tivesse contacto com a minha realidade e perceber como ela se poderia ligar ao território”, explica o coreógrafo e bailarino.
“Queria que abordássemos algo sobre o qual eu não tivesse ainda trabalhado, e pensei na civilização Nurágica, com todas com todas as incógnitas que permanecem para lá dos vestígios omnipresentes na ilha. Ancorámos muito a nossa pesquisa coreográfica nesse desafio de superar a inacessibilidade, de aceder ao mistério, visitando várias ruínas e o Museu Arqueológico de Cagliari, onde está uma quantidade importante dos Gigantes de Mont’e Prama, descobertos em 1974.”

O coreógrafo e dançarino Francisco Camacho. @crédito Cláudio Marques
Dinâmica entre duas pessoas
Em “Steal You For a Moment” existe uma sucessão de cenas com uma grande variação de tom e atmosfera, acrescenta o coreógrafo, bailarino e cocriador da peça. “Estamos sempre no domínio do humano, da existência, de como nos encontramos, nos relacionamos e vamos definindo uma nossa identidade. O espetáculo privilegia a dinâmica entre duas pessoas, a maneira como as perspetivas mudam e a adaptação às realidades uma da outra.”
O cenógrafo Gaëtan Rusquet e o designer de som Vincent Malstaf criaram uma paisagem que pode ter vindo do futuro ou existir fora do tempo. “O espaço vai-se reconfigurando, até pela ação do Gaëtan, e podemos projetar nele sejam memórias que vêm do passado sejam especulações para o futuro. A estratégia musical do Vincent dá-nos o impulso para seguir em frente, numa energia compartilhada à qual nos conectamos”, refere Francisco Camacho.
“Um aspeto que nos une, a mim e à Meg, é trabalhar com a interioridade, com estados físicos e psíquicos, que vão a par da atenção ao potencial de abstração, configurando uma linguagem coreográfica. Aqui, esperamos que o público se relacione com a nossa experiência interior e emotiva, que se liga a aspetos como a resiliência, o procurar ímpeto para agir”.
Francisco Camacho conheceu a coreógrafa Meg Stuart no início da década de 1990 e a ligação artística ficou até hoje. “Conheci a Meg quando estudava em Nova Iorque e as primeiras experiências com ela proporcionaram-me uma abordagem que eu ainda não tinha encontrado nas experiências de formação. Permitiam-me conciliar as minhas ferramentas de dança e as do teatro, correspondendo ao que eu procurava. Por outro lado, penso que ela encontrou em mim um intérprete que servia bem a sua visão, que a ajudava a alcançar o que começava a vislumbrar como caminho artístico.”
Continuam a partilhar palcos. “A cumplicidade com a Meg tem acontecido em inúmeros projetos contemplando diferentes modalidades e vem muito lá de trás; este dueto é um novo modelo.” Uma fusão criativa que promete continuar. “Não fecharia a porta a novas formas de colaboração, pode haver ainda outras possibilidades que contribuam para novas conceções estéticas e performativas.”