Um Ano de Cultura

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São João de Braga: o coração da tradição popular em festa

São João de Braga: o coração da tradição popular em festa

Publicado em 23 de Junho de 2025 às 14:15

Com mais de oito séculos de história e a caminho do reconhecimento como Património Cultural Imaterial, as Festas de São João de Braga regressam este ano com novo fôlego. Até 24 de junho, a cidade vive mais de 200 horas de celebrações que cruzam fé, tradição e identidade.

Ao longo de oito dias, de 17 a 24 de junho, Braga acolhe um dos maiores momentos do seu calendário cultural, cruzando devoção religiosa, tradição popular e celebração comunitária. As Festas de São João, com raízes no século XII, são hoje um dos mais marcantes símbolos da identidade bracarense e estão em vias de ser reconhecidas como Património Cultural Imaterial. Em 2025, assumem novo fôlego ao integrar o calendário oficial de Braga, Capital Portuguesa da Cultura.

As festas são hoje uma expressão consolidada da identidade bracarense, resultando de séculos de tradição que cruzam fé, memória e vivência coletiva. “A sua génese remonta a 1150, com o início do culto a São João Batista em Braga, mas é em 1489 que surgem os primeiros registos documentais de celebrações públicas”, explica André Marcos, coordenador da iniciativa. “Ao longo dos séculos, a cidade soube articular o sagrado e o profano, num equilíbrio singular.”

Desde os rituais religiosos até às danças populares, dos cortejos históricos à irreverência dos gigantones, das máscaras, dos bombos e dos manjericos, tudo contribui para um mosaico cultural que se renova ano após ano sem perder o seu enraizamento. Em 1893, as romarias de São João da Ponte e São João do Souto unificaram-se sob coordenação de uma Comissão de Festas, marco que impulsionou a expansão e institucionalização das celebrações.

As Festas de São João de Braga não são apenas um dos pontos altos do calendário cultural da cidade. Consideradas a celebração pública mais antiga em honra de São João Baptista em Portugal, estas mantêm uma forte ligação ao sentimento popular.

Mais de 200 horas de festa e sete cortejos

Com um programa que se estende por oito dias, as Festas de São João de Braga oferecem este ano mais de 200 horas de programação, com sete grandes cortejos, concertos com nomes como Tony Carreira, Diogo Piçarra, Katia Guerreiro e Ana Lua Caiano, iniciativas comunitárias e momentos de celebração religiosa. Estão envolvidas 365 entidades e cerca de 10.000 participantes diretos, entre grupos culturais, escolas, coletividades e instituições locais e a expectativa é de atrair dezenas de milhares de visitantes à cidade.

Cidade essa que se transforma num autêntico palco a céu aberto onde tudo acontece: romarias, danças tradicionais, bandas filarmónicas, zés-p’reiras, concertinas e muito mais. “É a maior festa popular do país e também a mais participada em Braga, envolvendo todos os setores da sociedade civil”, sublinha André Marcos. “É um reflexo da cidade que somos e da que queremos ser.”

Entre o popular e o erudito

O programa combina diferentes dimensões culturais e espirituais. A festa abre com o repicar dos sinos e concertos ao ar livre e estende-se a tertúlias, exposições, concursos de cascatas, oficinas criativas, apresentações de livros e visitas guiadas que exploram o património etnográfico da cidade.

Entre os momentos altos contam-se o Cortejo Histórico (20 de junho), o Encontro Internacional de Gigantones e Cabeçudos (21), o desfile “Todos ao Bombo” e o Cortejo Etnográfico (22), o simbólico Cortejo das Rusgas (23) e, já no dia de São João, o Cortejo Sanjoanino, com o tradicional Carro das Ervas, o Auto dos Pastores e a Dança do Rei David.

As celebrações culminam com a Procissão Solene de São João Baptista e o espetáculo de fogo-de-artifício no Monte Picoto, seguido do concerto de Tony Carreira na Avenida Central.

Música para todos os gostos

A programação musical é vasta e eclética. Artistas como Diogo Piçarra, Katia Guerreiro, Ágata, Ana Lua Caiano x Bandua, Os Pêgas, Canto D’aqui, Origem Tradicional e Sons do Minho integram o cartaz de 2025. Destaque ainda para a Gala Sanjoanina no Theatro Circo com o espetáculo “Chão”, uma homenagem à cultura popular portuguesa que une Braga, Évora e Ponta Delgada, as três capitais culturais do país e da Europa este ano.

A música tradicional bracarense ganha também destaque com a Orquestra de Cordofones Tradicionais de Braga, os festivais de cavaquinho e os cantares ao desafio, que mantêm viva a alma popular das festas.

“A música tem um papel central nas festas. Permite cruzar gerações, estilos e geografias, valorizando a criação artística nacional e as tradições do Minho”, afirma André Marcos.

Identidade em movimento

As Festas de São João mantêm-se vivas através do envolvimento de toda a comunidade, combinando tradição e reinvenção. Há espaço para a memória — com homenagens a figuras como o Mestre José Veiga, no centenário do seu nascimento — mas também para a reinvenção. “Mantemos os símbolos, mas procuramos sempre novas formas de os interpretar”, explica André Marcos.

O São João de Braga é feito de entrega, de pertença, de memória. É um reflexo da cidade que somos e da que queremos ser.

A ornamentação urbana, as artes visuais, o livro ilustrado infantil, os trajes reinterpretados por jovens designers e o projeto artístico “(E)Fusões Sanjoaninas” são exemplo disso. A cultura está em todo o lado: nos altares, nos palcos e nas ruas. As festas mantêm ainda um compromisso com a sustentabilidade e a inclusão, com oficinas criativas para famílias, concursos de cascatinhas, exposições, tertúlias, apresentações literárias e atividades de acessibilidade cultural.

Braga fervilha de alegria, sons e aromas — dos manjericos às farturas, das marchas populares aos arraiais noturnos. Os visitantes são convidados a participar ativamente, seja nos cortejos, nos espetáculos ou nos rituais religiosos, como a Solene Procissão de São João Baptista.

A edição de 2025 não é apenas uma celebração da tradição, mas um motor de turismo, identidade e criação artística. E se há cidade onde o São João pulsa com autenticidade, é em Braga.

A caminho do reconhecimento nacional

Num ano em que Braga é Capital Portuguesa da Cultura, as Festas de São João reforçam o seu valor patrimonial e iniciam formalmente o processo de candidatura ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. “Representam um património afetivo e cultural que se perpetua de geração em geração. O reconhecimento institucional apenas confirma aquilo que já vive na alma das pessoas”, defende o coordenador. A evocação de quadros bíblicos junto ao rio Este e a homenagem ao centenário do Mestre José Veiga reforçam o elo entre passado, presente e futuro.

Com um orçamento de 450 mil euros — um dos maiores de sempre — e o enquadramento privilegiado na programação de Braga 2025, as festas assumem um novo protagonismo a nível nacional e internacional.