Um Ano de Cultura

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Um festival revolucionário em Braga funde a arquitetura e a vizinhança

Daniel Duarte Pereira e Fernando F. Perreira

Um festival revolucionário em Braga funde a arquitetura e a vizinhança

Publicado em 25 de Maio de 2025 às 08:00

Os Space Transcribers, um atelier de investigação em arquitetura coordenado pelos arquitetos Fernando P. Ferreira e Daniel Duarte Pereira, organizaram o Festival de Arte e Arquitetura Forma da Vizinhança propondo leituras novas para cinco urbanizações e três hortas urbanas da Capital Portuguesa da Cultura. De 31 de maio a 29 de novembro

A Forma da Vizinhança é um festival de arte e arquitetura que propõe uma nova leitura urbana da cidade de Braga e do seu crescimento ao longo dos últimos 50 anos.

O festival surgiu integrado na programação artística de Braga, Capital Portuguesa da Cultura 2025,  “procurando fazer uma leitura crítica e dar resposta a dois temas interligados”, como explica o arquiteto Fernando P. Ferreira, um dos dois curadores do festival – o outro é o arquiteto Daniel Duarte Pereira e juntos dirigem o atelier de investigação em arquitetura Space Transcribers.

Os dois temas interligados são estes: “Por um lado, dar a conhecer a forma urbana da cidade de Braga resultante do crescimento dos últimos 50 anos em democracia — com especial atenção às áreas menos conhecidas (ou não tão exploradas), além do centro histórico. Por outro, num momento em que as relações de proximidade e conexão humana estão em profunda transformação, interessou-nos explorar de forma aprofundada o significado contemporâneo do conceito de vizinhança.”

Como acrescentou Fernando P. Ferreira, “olhámos para novas formas de vizinhança construídas nas últimas décadas, selecionando cinco urbanizações e três hortas urbanas — dois modos distintos de vizinhança”.

 Aos Space Transcribers interessou-lhes também “desconstruir o conceito de vizinhança — que hoje, a nosso ver, precisa de ser desromantizado e compreendido para além da mera proximidade física”.

Um festival revolucionário em Braga funde a arquitetura e a vizinhança

Ouvidos os moradores e partilhadas histórias

Foi realizado um processo de auscultação aos moradores e foram partilhadas histórias sobre os oito locais selecionados (cinco urbanizações e três hortas urbanas), entre junho e setembro de 2024, em estreita parceria com juntas de freguesia, associações de moradores e a BragaHabit. “Fizemos 13 sessões distribuídas pelos oito locais e contámos com um total de 153 participantes.”

Durante esse processo criativo de pesquisa foi desconstruído o conceito de vizinhança que agora “inclui também o vizinho do trabalho, dos serviços que usamos no dia a dia (café, supermercado), os vizinhos digitais com quem interagimos online, e os vizinhos não humanos — sejam eles animais ou ecossistemas vegetais”.

Partindo dessas formas de vizinhança construídas — edifícios, hortas, espaço público — e de quem os habita, “o festival explora histórias, rotinas e tensões que moldam a vida urbana”, referiu ainda Fernando P. Ferreira.

“Oito instalações arquitetónicas temporárias, comissionadas a oito equipas de arquitetura, e oito ativações artísticas concebidas por artistas e designers desenham um percurso distinto, que reflete sobre a cidade construída e os modos como nela vivemos em conjunto”, destacou.

Um legado material e imaterial

O legado do festival A Forma da Vizinhança vai permanecer, pelo menos assim acreditam os Space Transcribers. “Apesar de ser um festival de compromisso longo (iniciado no final de 2023) e de caráter temporário — com fim marcado para novembro deste ano —, acreditamos que gerou uma energia coletiva que deixará um legado material e imaterial. Por exemplo, numa das urbanizações trabalhadas, renasceu uma associação de moradores que estava adormecida. Além disso, o projeto resultará em duas publicações que contribuirão para o conhecimento sobre e para a cidade. Por isso, sim: acreditamos que os frutos deste festival continuarão a alimentar vizinhanças mais unidas, atentas e criativas”, conclui Fernando P. Ferreira.

Perante a atual crise climática e a transformação das relações humanas a nível global, “é imperativo que a arquitetura do presente e do futuro tenha uma agência cívica e ecológica ativa”, sublinhou o arquiteto. “Isso implica sensibilidade na escolha dos materiais — priorizando a sustentabilidade e a circularidade — e um envolvimento próximo com as comunidades humanas e não humanas nos territórios onde intervém.”